NASCIMENTO DE PETENCOSTES


Um belíssimo documentário datado de de 1862 a 1876 que retrata O nascimento de Pentecoste e fala em detalhes de um atalho para chegarem a algumas fazendas situadas na Freguesia de Canindé e a atração pelas terras férteis existentes nas margens dos rios Canindé, Curu e Capitão-Mor. Fonte - Do livro Pentecoste e sua História, de José de Anchieta e Silva.

Corria a ano de 1862, quando a cidade que tem hoje a denominação “PENTECOSTE”, não passava de uma vasta campina cercada de lembranças e coberta de relva, onde vagavam os animais em busca de alimento e do abrigo contra os ardentes raios do sol nas horas do meio-dia. Alguns transeuntes de passagem pela estrada que ligava São Francisco a Soure, procurando um atalho para chegarem em algumas fazendas situadas na Freguesia de Canindé, começaram a sentir atração pelas terras férteis existentes nas margens dos rios Canindé, Curu e Capitão-Mor. Havia uns poços na confluência do rio Canindé com o Curu, onde era grande a abundância de peixes. A fauna da região era de tal maneira que qualquer caçador habilidoso não precisava andar muito para conseguir os mais imponentes espécimes. Nas sombras dos juazeiros, malhavam as veados garapus, animals matreiros, sagazes, os quais sempre exigiam muita astúcia por parte do caçador para serem apanhados de surpresa. 

No emaranhado das moitas de cipó do rio encontravam-se as saracuras, a juriti, a preá, a gato mourisco e outras caças, umas preferidas por sua carne saborosa, outras pela pele silvestre. Os vaqueiros costumavam exercitar seus cavalos bons de gado praticando o esporte de correr atrás dos bandos de seriemas, uma ave pernalta que muita se assemelha ao peru, bastante conhecida nestes sertões. Nas lareiras próximas às várzeas do rio Capitão-Mor viviam os grandes grupos de jacus, a pomba-da-asa-branca, o carão, além dos diversos tipos de aves aquáticas encontradas nas lagoas. Algumas pessoas treinavam seus cães para a caça aos pebas, tatus, tamanduás, maritacacas, gatos maracajás e até onças. Na localidade denominada BARRINHA, próxima onde hoje se encontra a cidade sede do Municipio de Pentecoste, com mais de 15.000 habitantes, existia uma fazenda de propriedade de Francisco Carneiro de Azevedo. 

Naquela época, em 1862, algumas pessoas começaram a construir suas casas, fazendo crescer gradativamente o número de cidadãos e em cujas mentes predominava a idéia da edificação de uma igreja onde pudessem se congregar para mais convenientemente oferecerem a Deus as suas oraçöes e onde o Sacerdote que porventura percorresse estes sertões em desobriga, pudesse celebrar o Santo Sacrificio da Missa e distribuir a Pão Eucarístico até então distribuído por aqui nas casas de fazendas de Agostinho de Castro Moura e Francisco Carneiro de Azevedo, ambos conhecidos como pessoas abastadas e que gozavam de muita estima e grande prestigio perante a povo destas redondezas. Para fim tão louvável, procuravam todos um local onde se pudesse estender uma povoacão, o que não foi difícil pois o cidadão José Maria (Lopes Freire), morador no lugar Poço, Freguesia de Soure, possuidor de muitas terras nesta região, de muita boa vontade franqueou o terreno para a construção da igreja em qualquer parte que se julgasse conveniente. A promessa feita por aquele cidadão foi religiosamente cumprida por seu genro o capitão Francisco Carneiro de Azevedo, casado com Da. Ana Libânia de Azevedo, os quais fizeram doação a Nossa Senhora da Conceição, do quadro ocupado pela Igreja que serve hoje de Matriz, e pelas ruas que rodeiam a mesma Igreja.
Naquele tempo o cidadão Bernardino Gomes Bezerra, profundo conhecedor destes campos e sendo bem relacionado com o povo, vinha planejando já algum tempo, construir uma casa de campo onde pudesse vez por outra vir passar dias com sua familia. Em agosto de 1862, dito cidadão vindo de um sítio na praia onde residia, chegando ao local já à noite, arranchou-se com a familia debaixo de umas oiticicas existentes ao lado esquerdo do rio Canindé, ao poente do local onde hoje localiza-se a cidade. No dia seguinte pela manhã, visitou o local que estava reservado para a construção da Igreja. Bernardino Gomes Bezerra, era pedreiro, e sentindo a aproximação da estação invernosa, resolveu construir uma casa de tijolos ao lado do poente do local reservado à Igreja, a fim de trazer a família para passar o inverno. Esta casa, enquanto não foi erigida a Igreja, servia de rancho aos Sacerdotes que vez por outra vinham em desobriga, pois era a única casa existente em Pentecoste naquela época. Certo dia, aproveitando a passagem do Pe. Francisco da Rocha, Bernardino consultou-o sobre a posição da Igreja a ser construida. Instruído a este respeito, aquele cidadão de comum acordo com o Capitão Francisco Carneiro de Azevedo e outros homens interessados, assentou os alicerces da Igreja, cuja primeira pedra foi colocada no dia 8 de janeiro de 1864, pelo Pe. Manuel Ribeiro, Capelão da Povoação de Jacu, Capela Filial da Matriz de Canindé. Os trabalhos foram iniciados imediatamente, e ainda no ano de 1864 a Igreja já se achava em ponto de ser celebrado o Sacrificio da Missa, o que aconteceu, tendo o Pe. Manuel Lins benzido-a e celebrado a primeira missa no dia de Pentecostes.

A exemplo de Bernardino, os habitantes da localidade foram edificando suas casas em alinhamento, e por esta forma estava levantada a igreja e iniciada a Povoação que tomou a nome de BARRA, por causa dos rios Curu e Canindé encontrarem-se a menos de um quilometro de distância do Povoado e formarem em suas embocaduras um grande poço com a denominação “Poço-da-Barra”.

Após a celebração da Missa, o Padre Manuel Lins aproveitando a oportunidade enquanto o povo ainda se achava aglomerado, depois de pedir que se fizesse silêncio, repetiu várias frases proferidas por ocasião da homilia pregada durante a celebração da Missa sobre a festa do Divino Espírito Santo, pedindo ao povo que para servir de memória àquele dia, o lugar fosse mudado de nome, isto é; de Barra para Pentecostes. A proposta foi aceita por unanimidade muito embora tenha se passado algum tempo sendo a povoacão chamada pelos dois nomes, isto é, Barra e Pentecostes, tendo havido um erro de imprensa quando foi registrado oficialmente o nome do municipio pois foi omitido o “S”, e finalmente Pentecoste não tem o verdadeiro sentido da palavra desejada pelo Padre Manuel Lins, mas mesmo assim o Divino Espírito Santo vem abençoando e derramando graças sobre o município fazendo-o crescer e desenvolver-se a passos de gigante.

Com aquela capelinha embora apenas começada, os habitantes do lugar tinham conseguido em parte seus objetivos. Restava agora conseguir a vinda de um Padre para se colocar à frente, a fim de melhor estimular a continuação dos serviços da igreja e o desenvolvimento do lugar. Enquanto porém não conseguiam um Padre que se sujeitasse a vir morar na nova povoação, o povo ia conseguindo um todos os anos por ocasião da Páscoa e da festa do Natal, não só pelo dever religioso mas também com o objetivo de por meio do movimento festivo principalmente no Natal, angariar alguns donativos em benefício da continuação dos trabalhos da igreja.

De 1864 a 1867 vieram celebrar as missas do Nascimento, os Padres Hipólito Gomes Brasil, José da Cunha Ferreira e Luis Vieira Perdigão. Este último, tendo vindo em 1867, não se quis demorar, retirando-se o mais depressa possivel com medo de ser atingido por uma febre de mau caráter que vinha grassando e fazendo vítimas na região.

Em 1867, já existindo um certo número de casas de tijolos, o Padre José Ferreira de Sousa juntamente com o povo, conseguiu a criação de uma cadeira tendo sido a dita cadeira provida pelo Professor Raimundo Eugênio de Sousa que a regeu até 1869.

Como continuava crescendo o número de pesoas bem como a de casas construídas, o povo foi se entusiasmando e alimentando esperança de elevarem a povoação à categoria de Freguesia. Esta pretensão motivou certa rivalidade por parte do povo de Jacu, povoado antigo que por isto mesmo alegava mais direito de passar a Freguesia visto ser Pentecoste um povoado novo que acabava de surgir. Por esta causa os jacuenses promoveram certa perseguição, não perdendo ensejo de notificar toda e qualquer medida que neste sentido tomavam os habitantes da nova povoação. Cada um dos ditos povoados por sua vez, encarecia suas vantagens para alcançar a preferência um ao outro, ficando assim o vencido sujeito ao vencedor na qualidade de capela filial. Importando porém a ambos este melhoramento, nenhum deles podia ser juiz em sua própria casa e cada qual tratava de engradecer sua localidade para melhor merecer o apoio no seio do Parlamento da Província e aprovação do mui digno Prelado Diocesano, visto que naquele tempo a igreja tinha muita influência nos setores civis administrativos. Com efeito a questão foi resolvida quando certo dia D. Luis Antonio dos Santos, Bispo da Diocese, de passagem em visita pastoral pela zona norte do Estado, teve de demorar em Pentecoste seguindo depois para o Jacu. Tomando conhecimento das rivalidades entre os habitantes das duas povoações, examinando bem os terrenos e a posição topográfica de ambos, declarou publicamente que Pentecoste dispunha de melhores condições para ser a sede da Freguesia, pelo seu solo fértil, relevo do terreno e vasta área apropriada para o desenvolvimento da agricultura e pecuária, enquanto as qualidades do solo da povoaçäo do Jacu tornavam-se inferiores em quase todos os pontos, destacando-se apenas algumas áreas apropriadas para a criacão do gado.

Do livro Pentecoste e sua História, de José de Anchieta e Silva.
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